Balanço das leituras de 2022

2022 foi um dos anos em que mais li, e chegou o momento de relembrar essas leituras pra dar espaço para as que virão em 2023. Nesse post, falo um pouco sobre os livros que mais me marcaram e algumas análises gerais, com link para resenhas quando houver.

Algo que me deixou especialmente feliz esse ano foi que consegui me dedicar a leituras de não ficção que queria fazer há tempos, e que dessa vez ocuparam 49% do meu total de livros lidos.

Dentre os autores, 52% do que li foi escrito por mulheres, 2% por pessoa não binária e 45% por homens. Quanto à cor/raça, a maior parte (65%) foi escrito por pessoas brancas, 26% por negras, e o demais por pessoas indígenas, amarelas ou marrons.

Quanto à origem, li majoritariamente autores das Américas do Sul (quase todos brasileiros) e do Norte (todos dos EUA), 23% da Europa, 4% da Ásia e 2% da América Central. Em relação aos livros nacionais, a maior parte (62%) foi sudestina - com destaque para Minas Gerais e São Paulo -, e o restante nordestino (23%), principalmente de Pernambuco, e sulista (15%).

Falo sobre porque considero importantes essas análises por autor nesse post.

Obs.: essas estatísticas se referem ao total conhecido, ou seja, autores de cujo gênero, cor/raça e nacionalidade tenho conhecimento, que é a maioria, com raras exceções. Além disso, são calculadas de acordo com a quantidade de livros lidos, de modo que, se eu tiver lido mais de um livro do mesmo autor, será contabilizado mais de uma vez.


 Foto: autoria própria.

Agora, sobre a qualidade das leituras: minha nota média dos lidos foi de 3,9 de 5, o que já dá uma ideia de quanto esse foi realmente um ano de ótimas leituras. No entanto, como li uma grande variedade de gêneros, achei ainda mais difícil escolher os favoritos no geral, então separei por gênero, dentre os que mais li, de um jeito que fez sentido para mim. Meu principal critério, aqui, é o prazer que a leitura me proporcionou e o quanto me marcou a longo prazo.

Ficção:

As leituras de ficção sempre são minhas preferidas. Aqui, selecionei um destaque de ficção geral, um clássico e um contemporâneo.

Destaque de ficção: 

 Kindred: laços de sangue, de Octavia E. Butler (leia a resenha aqui).


Foi a única leitura de ficção científica do ano, por isso não tenho uma categoria específica para ela. Mas eu precisava destacá-la de alguma forma, pois é uma história que absorve num enredo muito bem construído de viagem no tempo e que traz diversas complexidades de gênero e raça. Foi meu primeiro livro da autora e me abriu para querer ler tudo dela. Inclusive, ela está nas minhas metas para 2023. Além disso, acredito que ter lido com o Clube de Leituras Decoloniais deixou a experiência ainda mais especial. A série baseada na obra já estreou nos EUA, e estou ansiosa para poder assistir.

Clássico


Terra estranha, James Baldwin (leia a resenha aqui).


Ler clássicos é muito importante para mim, mesmo quando rola aquela dúvida: esse já é um clássico? Mesmo que essa tenha sido minha primeira leitura de James Baldwin, não tenho dúvidas de que sua obra é um desses marcos. Como aconteceu com Octavia E. Butler, eu mal posso esperar para ler tudo que ele escreveu. Sou apaixonada por histórias em que os personagens e as relações entre eles são bem desenvolvidas, principalmente quando a escrita é tão linda quanto a de Baldwin. É preciso dizer que ainda não superei essa leitura.

Contemporâneo


O som do rugido da onça, Micheliny Verunschk (leia a resenha aqui).


A maior parte das leituras de ficção do ano se encaixam nessa categoria, mas não hesito em dizer que O som do rugido da onça foi a que mais me marcou, leitura dolorosa e bela ao mesmo tempo, e que acredito ser muito necessária para a literatura nacional. Não lembro se chorei com algum outro livro esse ano, com exceção da releitura da tetralogia napolitana, que vou comentar mais à frente.

Não ficção

De não ficção, selecionei também um destaque, além dos favoritos de ensaio, ambientalismo, feminismo e raça.

Destaque de não ficção

Leonardo da Vinci, Walter Isaacson (leia a resenha aqui).


Fiquei totalmente fascinada por essa biografia. Esse é um gênero que ainda não tenho o costume de ler, mas lembro de ter vontade de compartilhar tudo que eu estava lendo com alguém.

Ensaio

A vida não é útil, Ailton Krenak (leia a resenha aqui).


Nem sei se esse livro é classificado oficialmente como ensaio, no entanto, ele é mais um exemplo de leitura que eu não poderia não citar aqui. Tanto que foi uma das referências do primeiro texto do meu Medium recém-inaugurado

Ouça Ailton Krenak. Leia Ailton Krenak.

Ambientalismo


Shalom and the community of creation, Randy S. Woodley.


Como a aspirante a ativista socioambiental que sou, leio muito sobre assuntos que se interseccionam nessa área, que na verdade é toda a nossa vida, e sobre a relação de tudo isso com minha fé. Esse livro conta a perspectiva do conceito hebraico de Shalom, sua manifestação em Jesus Cristo e sua semelhança com perspectivas de vida indígenas, uma noção de harmonia e plenitude na Terra, entre todos os seres. Um novo favorito da vida para ter sempre como referência.

Raça

Racismo estrutural, Silvio Almeida.


Infelizmente, a popularização que tenho visto do uso das palavras racismo estrutural nas redes sociais não tem sido muito fiel a seu significado, já que são usadas com frequência para amenizar atos racistas. Por isso, essa leitura é essencial para entender que racismo estrutural é esse, como se manifesta, qual sua origem e quais os meios de combatê-lo, principalmente nesse país em que muitos ainda compram o mito da democracia racial.

Feminismo

Teoria feminista: da margem ao centro, bell hooks.


Paralelamente ao exemplo anterior, infelizmente o feminismo que continua no “hype” não é o que representa a maioria das mulheres, especialmente aquelas que estão nas margens da sociedade. Teoria feminista: da margem ao centro é uma leitura obrigatória para qualquer pessoa que deseje se comprometer verdadeiramente com a luta feminista, compreendendo que o fim do patriarcado é urgente e só se dará com o fim de toda forma de opressão.

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Releituras


Em 2022, reli a tetralogia napolitana de Elena Ferrante, e foi tão maravilhoso quanto na primeira vez, ou até mais, porque dessa vez consegui escrever uma resenha para cada livro (confira aqui). Lila e Lenu são personagens que agora fazem parte da minha vida e que me emocionam em cada aparição, mesmo na série da HBO, que ganhará a quarta e última temporada em 2023.

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Essa foi uma breve retrospectiva das minhas leituras de 2022. Também gostei de ter conseguido escrever mais resenhas ou no mínimo comentários sobre os livros, fosse aqui no site ou apenas no Instagram (coloquei todas as leituras que fiz em 2022 nos destaques do Instagram @das_palavras). Se você tem acompanhado e engajado com o conteúdo do Das palavras de alguma forma, muito obrigada! Ótimas leituras para nosso 2023!