A vida não é útil - Ailton Krenak
Geralmente eu não escrevo sobre livros de não ficção porque acredito que
comentá-los requer uma responsabilidade com o tema que vai além da
minha percepção da obra, exigindo um trabalho mais aprofundado. Porém,
eu não poderia deixar de comentar sobre A vida não é útil (2020), que
reúne cinco textos de Ailton Krenak.
Embora curtinha, a obra
levanta muitas provocações necessárias, especialmente em relação ao
modelo socioeconômico em que vivemos, em que o ser humano urbanizado se
vê separado da natureza e preso a uma lógica colonizadora e capitalista
de produtividade destrutiva ao planeta e à qualidade de vida. Ele
enfatiza que escolhas individuais por alternativas sustentáveis não
mudarão o rumo da degradação e desigualdades socioambientais, que já não
são profecias, mas fatos concretos que há muito já impactam
principalmente as comunidades menos responsáveis por eles.
Na
verdade, apenas o silenciamento e a transformação em coletivo, a exemplo
do que condições extremas como a pandemia já nos impuseram, de fato
criarão condições para uma vida abundante para todos os seres.
Mais
que isso, Ailton Krenak oferece, ao falar de sua própria experiência
enquanto parte de um povo originário, e de outras comunidades
tradicionais, uma lembrança do que realmente é o que chamamos de
natureza e de vida, como são mais próximas do que nos acostumamos a
pensar.
"Os povos originários ainda estão presentes neste mundo
não porque foram excluídos, mas porque escaparam, é interessante lembrar
isso. Em várias regiões do planeta, resistiram com toda força e coragem
para não serem completamente engolfados por esse mundo utilitário."
Gostaria que todo mundo lesse A vida não é útil. E assim a gente vai aprendendo em conjunto a "pisar suavemente na terra".
Foto: autoria própria.