Leituras de 2021: retrospectiva e favoritos
Uma das minhas partes preferidas dos fins de ano é fazer as retrospectivas, inclusive dos livros que li. Apesar disso, fazia algum tempo que não fazia uma em forma de texto, e como esse ano voltei a escrever mais constantemente aqui no Das palavras, não poderia deixar de fazer minha retrospectiva de leituras de 2021. Para isso, trouxe algumas informações sobre autores que li e, como não poderia faltar, as leituras preferidas do ano.
Esse ano, li muitos autores pela primeira vez, e li mais livros de não ficção do que de costume (38%), enquanto ano passado esse índice foi de 17%.
Entre os livros com autoria definida, surpreendentemente metade das minhas leituras foram escritas por mulheres e metade por homens. Ainda houve uma grande predominância de autores brancos (68%), mas a lista foi um pouco mais diversa que ano passado. Os autores lidos foram de nove países diferentes, a maior parte do Brasil.
Espero ler também autores da África, Oceania e América Central nos próximos anos. Futuramente também quero incluir nessa análise os estados dos autores brasileiros.
Em relação às notas atribuídas às leituras, ficaram entre 3 e 4,5 (de cinco). Aparentemente fiquei exigente depois das minhas leituras do ano passado, algumas das quais ficaram entre preferidas da vida, como a tetralogia napolitana da Elena Ferrante.
Dito isso, os livros que classifiquei com maior nota esse ano foram:
Ficção:
Eu já havia mencionado esse livro como leitura preferida do primeiro semestre nesse post.
A narrativa é uma reconstrução da história familiar de Pedro, o narrador, que escreve como se conversasse com o pai, Henrique, que foi assassinado em uma abordagem policial. Assim, parte do livro é escrito em segunda pessoa, à medida que Pedro recompõe as histórias do pai e da mãe, de seus relacionamentos, de seu próprio nascimento. Essas vidas que se entrelaçam, contidas em corpos negros, são atravessadas pelo racismo em diversas de suas nuances e violências, inclusive a que mata Henrique aos cinquenta e poucos anos. Henrique era professor de Português e sua dedicação e paixão pela Literatura reverbera na obra, assim como o valor da Educação.
É uma leitura muito fluida, ao mesmo tempo que impactante e sensível. As personagens ficaram comigo até agora, e sem dúvida continuarão.
Crônica do pássaro de corda, Haruki Murakami
O enredo desse grande romance Murakami se desenvolve em torno de Toru Okada, um morador de Tóquio que aos 30 fica desempregado e ainda não sabe o que fazer da vida, depois de anos em um emprego com que não se identificava. A partir do desaparecimento de seu gato de estimação, estranhos acontecimentos começam a se infiltrar na vida de Okada e de sua esposa, Kumiko.
Essa foi minha primeira leitura das provavelmente muitas que farei de Murakami. Desde o início, me senti imersa na história, impelida pelas questões que surgem na vida de Okada, e também pelo ar de familiaridade que há na construção do cotidiano, os atos de cozinhar, limpar, fazer compras, ler, dormir, que coexistem com a estranheza dos acontecimentos não cotidianos e com relatos brutais de guerra. A escrita de Murakami é simples e confortável, abrindo caminho para a história nos alcançar. Os personagens são muito bem desenvolvidos, cada um tem sua história, suas próprias crônicas.
Você pode ler minha resenha completa do livro aqui.
Esse livro me acompanhou por um pouco mais de um mês, mas com certeza eu ainda o revisitarei muitas vezes e lerei outras obras da autora. Muitos versos me marcaram e ficaram ecoando nesse lugar único que sinto que só a poesia acessa.
Como acho difícil comentar poesia, nesse post, junto a alguns versos do livro, trouxe alguns trechos da resenha “A respeito de uma poeta que só conheceu o mar pelo rumo que faz um livro”, de Victor da Rosa na revista Teresa de Literatura Brasileira da Universidade de São Paulo.
“Como se descrevesse um mundo dobrado sobre si mesmo, mundo-mapa-múndi, a poesia de Ana Martins adquire a forma de ruminação e da reserva, que passa necessariamente pela elaboração íntima - flagrante indicação do caráter miniatura de sua escrita, tão atenta aos pequenos gestos, aos desejos mínimos e ao próprio corpo, sendo o tom jamais elevado. E em contato permanente e ambíguo com o leitor” (Victor da Rosa).
Não ficção:
Esse livro reúne uma vasta pesquisa da Bíblia feita por um historiador, tanto em relação ao velho quanto ao novo testamento. Como o autor enfatiza desde o início, são evidências históricas, diante das quais cada pessoa pode tirar suas próprias conclusões, e sobre as quais podem se basear para outras pesquisas. Ao longo do livro, o autor expressa a sua própria visão em alguns pontos, mas a bibliografia fica permanentemente em destaque.
Demorei bastante para terminar a leitura, porque é muito conteúdo, e é um livro para se consultar de acordo com os estudos que estiver fazendo no momento.
Bela Baderna: Ferramentas para Revolução (edição pocket), Andrew Boyd e Dave Oswald Mitchell
Esse é o livro que utilizamos como base no quadro “Que história é essa, ativista?” do podcast Pimenta pra Jovem é Refresco, do qual faço parte na organização Engajamundo. Essa foi minha motivação para lê-lo, e foi uma ótima experiência.
Ele é uma edição compacta com ferramentas de ativismo: Princípios, Teorias e Táticas básicos, mas essenciais para ativistas iniciantes ou veteranos. Além disso, enquanto lia consegui visualizar muitas outras aplicações para as ferramentas apresentadas, sobre liderança, comunicação, estratégia, etc. Também é um livro para o qual retornar com certa frequência.
Política: quem manda, por que manda, como manda, João Ubaldo Ribeiro
Esse é um livro simples e necessário sobre conceitos básicos de Política, desde o que é política, Estado, Democracias e Ditaduras até Sistemas Eleitorais, Partidos Políticos e Ideologias, por exemplo. Ao final de cada capítulo, são colocadas questões para reflexão pessoal dos leitores, contribuindo para a construção de opinião crítica.
Citando resenha de Adller Moreira Chaves:
“A obra em análise, mesmo sendo um ensaio ou um “manual”, termo este utilizado pelo próprio autor, é de rica contribuição para os iniciantes em estudos sobre política ou até mesmo para candidatos a cargos na política institucional. Isso porque João Ubaldo Ribeiro discorre sobre os temas principais da política, explanando, inclusive, o panorama mundial de diversos temas ligados à política institucional, explicando a vertente dos modelos eleitorais, que os meios de comunicação em geral, na atualidade, apenas dão os resultados. Outro ponto importante da obra é que ela traz elementos da história brasileira, realizando todo um apanhado da trajetória política/institucional do Brasil nos últimos anos.”
A guerra não tem rosto de mulher, Svetlana Aleksiévitch
Esse é um livro de relatos reais reunidos no gênero literário polifônico e único que rendeu à autora um Nobel de Literatura. Os relatos em questão são de mulheres soviéticas que estiveram na Segunda Guerra Mundial, revelando histórias invisibilizadas ao longo da História humana, fato ao qual alude o título da obra. São relatos de mulheres que ocuparam as mais diversas funções de um campo de batalha, que pegaram em armas, que dirigiram tanques, que pilotaram aviões, que cozinharam para os companheiros, que lavaram suas fardas, que mataram e perderam pessoas, que se sacrificaram, que foram condecoradas, que se voluntariaram, que sofreram os traumas do pós-guerra, e com tudo isso o peso extra do machismo, a rejeição, estupros, o medo de não ser mais vista como mulher.
Entre uma sequência de relatos e outra, a autora intercala alguns pensamentos que teve enquanto ouvia essas mulheres e fazia sua pesquisa.
Embora qualquer história de guerra costume ser perturbadora, os relatos das pessoas comuns que a viveram de fato trazem realidade e humanidade para quem só conhece a guerra através da ficção e sua romantização. É um livro denso, que me emocionou e impactou bastante, e que sem dúvida precisaria estar nessa lista de melhores lidos do ano.
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Dentre esses, meus preferidos de ficção foram O avesso da pele e Crônica do pássaro de corda, e, de não ficção, A guerra não tem rosto de mulher.
Além das leituras, também pude reler a saga Os Heróis do Olimpo, que me trouxe muitas boas lembranças das leituras da minha adolescência, como mencionei nesse post.
E você? Como foram suas leituras de 2021? Indique as preferidas nos comentários!
Resenhas mencionadas:
Moreira Chaves, A. (2017). Resenha: RIBEIRO, João Ubaldo. Política: quem manda, porque manda, como manda. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998. Cadernos De Ciências Sociais Aplicadas, 13(21). Recuperado de https://periodicos2.uesb.br/index.php/ccsa/article/view/2103.
Rosa, V. da. (2018). A respeito de uma poeta que só conheceu o mar pelo rumor que faz um livro. Teresa, 1(19), 361-364. https://doi.org/10.11606/issn.2447-8997.teresa.2018.145091.