Fahrenheit 451 - Ray Bradbury
Existe mais de uma maneira de queimar um livro. E o mundo está cheio de pessoas carregando fósforos acesos.- Ray Bradbury
Sinopse:
A obra de Bradbury descreve um governo totalitário, num futuro incerto mas próximo, que proíbe qualquer livro ou tipo de leitura, prevendo que o povo possa ficar instruído e se rebelar contra o status quo. Tudo é controlado e as pessoas só têm conhecimento dos fatos por aparelhos de TVs instaladas em suas casas ou em praças ao ar livre. O livro conta a história de Guy Montag, que no início tem prazer com sua profissão de bombeiro, cuja função nessa sociedade imune a incêndios é queimar livros e tudo que diga respeito à leitura. Quando Montag conhece Clarisse McClellan, uma menina de dezesseis anos que reflete sobre o mundo à sua volta e que o instiga a fazer o mesmo, ele percebe o quanto tem sido infeliz no seu relacionamento com a esposa, Mildred. Ele passa a se sentir incomodado com sua profissão e descontente com a autoridade e com os cidadãos. A partir daí, o protagonista tenta mudar a sociedade e encontrar sua felicidade.
Skoob
Tudo depende do que você entende por social, não é? Social para mim significa conversar com você sobre coisas como esta. - Ela chocalhou algumas castanhas que haviam caído da árvore do jardim da frente. - Ou falar sobre quanto o mundo é estranho. É agradável estar com as pessoas. Mas não vejo o que há de social em juntar um grupo de pessoas e depois não deixá-las falar, você não acha?
Pág 50
Opinião:
Fahrenheit 451 é uma narrativa rápida e intensa, ou seja, cada momento no livro tem uma grande importância para o protagonista, Guy Montag, e consequentemente para o leitor. Inicialmente, Montag é um bombeiro comum, que queima livros sem nunca ter questionado o porquê de seu emprego. Sua sociedade é superficial, as pessoas mal se conhecem, são vidradas nos programas exibidos por telões que ocupam as paredes das casas, cujos personagens chegam a ser chamados de "família". Dirige-se a velocidades absurdas e quem é flagrado mais lento que isso acaba preso, assim como quem ousa andar a pé e, principalmente, ter posse de livros. Bradbury não nos apresenta diretamente a essa sociedade, somos introduzidos nela de acordo com o cotidiano das personagens.
Não se pode precisar o momento em que uma amizade se forma. Como ao encher gota a gota uma vasilha, há, no final, uma gota que a faz transbordar, assim, também, em uma série de gentilezas, há uma que, por fim, faz o coração transbordar.
Pág. 97
Estava tudo muito bem para Montag até que ele conhece a nova vizinha, Clarice McClellan, uma garota observadora do mundo e das pessoas, com quem se sente bem em conversar. Em poucos dias, os dois formam uma amizade e o bombeiro começa a abrir os olhos para a loucura do mundo a sua volta, em seus diálogos Clarice o leva a refletir sobre o quanto as pessoas são vazias, o quanto não têm tempo para observar o mundo. A partir daí, Montag se dá conta de que não é realmente feliz e que não ama sua esposa, Mildred, a quem mal conhece. Começa a ficar intrigado sobre os livros que os bombeiros queimam, e em uma dessas missões acaba surrupiando um livro. O capitão Beatty, seu chefe, desconfia de Montag e tenta convencê-lo de que os bombeiros garantem a felicidade, de que questionar é ser infeliz. Porém, ele procura a ajuda do ex-professor Faber, fortalecendo sua certeza de que as pessoas vivem uma falsa realidade e de que precisam dos livros, de conhecimento, de crítica. Obviamente, essa certeza lhe custa a segurança de sua vida atual, que sofre uma verdadeira reviravolta.
Não é de livros que você precisa, é de algumas coisas que antigamente estavam nos livros. (...) Descubra essa coisa onde puder, nos velhos discos fonográficos, nos velhos filmes e nos velhos amigos; procure na natureza e procure em você mesmo. Os livros eram só um tipo de receptáculo onde armazenávamos muitas coisas que receávamos esquecer. Não há neles nada de mágico. A magia está apenas no que os livros dizem, no modo como confeccionavam um traje para nós a partir de retalhos do universo.
Pág. 109-110
Ao longo da história, sentimos o deslumbramento de Montag enquanto descobre o mundo, cada aroma, cada sensação é descrita e desperta nele uma nova emoção, como uma criança, e uma reflexão ao comparar a si mesmo no presente com ele mesmo há algumas semanas. Os diálogos entre as personagens são ótimos e os assuntos abordados pelo autor são interessantes e bem explorados, uma crítica clara à superficialidade da mídia e à repressão da cultura. Os únicos pontos negativos, na minha opinião, foi a descrição excessiva e repetitiva em algumas partes e a impressão de que o autor poderia ter desenvolvido mais o final do livro. No geral, gostei muito das reflexões colocadas em questão sobre o mundo de hoje, afinal, o que estamos vivendo não difere muito da sociedade criada por Bradbury.
Nota: 8,5
Nota no Skoob: 4/5

Título: Fahrenheit 451
Autor: Ray Bradbury
Editora: Globo Livros
Nº de páginas: 216
Adaptação cinematográfica: Fahrenheit 451 (1966)