Lis no peito: Um livro que pede perdão - Jorge Miguel Marinho
Às vezes, ou quase sempre, é um tormento fazer as palavras combinarem com as ideias, os pensamentos, as emoções que se chocam dentro de nós como blocos de gelo navegando em água turva, farpas imantadas e boiando tontas em mar estranho. Tudo é da mesma matéria, mas a palavra briga com a vida, você sabe.
- Jorge Miguel Marinho, Lis no Peito, pág. 13
Sinopse:
Este livro fala de amor entre jovens, da felicidade de adiar um primeiro beijo tendo a certeza de que ele vai acontecer, de delicadezas e violências que são tão presentes no mundo de quem quer se descobrir.
Há um crime, imperdoável talvez, e o possível criminoso pede para um escritor amigo escrever a sua história, porque ele mesmo não consegue entender se é culpado ou não. Precisa de outros olhos para ser condenado ou absolvido, sobretudo para continuar a viver. É aí que o leitor entra e, mesmo em silêncio, se vê responsável e seduzido para dar o seu veredicto final. Em síntese, este livro quer trazer o leitor para dentro das suas páginas e, provisoriamente, com ele dar um fim à sua história num “encontro bom” entre a mão que escreve e os olhos de quem lê. Clarice Lispector também está presente nessa trama e vai crescendo e atirando palavras dos seus livros como uma espécie de pista para que o escritor, os personagens e os leitores entrem com tudo na misteriosa e imperdível aventura de “existir” e julguem o “réu?” com aquela sensibilidade que é puríssima “revelação”. É por essas e por outras que este livro pede “perdão” e ela, a Clarice, parece dizer que toda história é “absolvida” pela simples leitura e este gesto é como alguém que dá a mão a outro alguém vivendo num instante “tudo o que se pode esperar de uma alegria.”
Editora Biruta
“Escrever para alguém é quase sempre essa necessidade tão humana de aproximar a mão que escreve dos olhos de quem lê.”- Jorge Miguel Marinho.
Opinião:
Lis no peito é, de fato, um livro que parece falar, como se pudesse ser ouvida a voz do autor em nossa cabeça. E por incrível que pareça, é uma história simples, singela, tal como a escrita de Jorge Miguel Marinho. É a história de um adolescente, Marco César, descobrindo o amor e a literatura de Clarice Lispector. Aliás, Lispector é quase que uma personagens, presente na abertura de cada capítulo e na vida das personagens. Foi também dela que surgiu o título: Lispector = Lis no peito, flor-de-lis.
Marco César é um jovem meio solitário, que não se sente pertence a ninguém. Fica amigo de um escritor, que se dispõe a escrever sua história para que os leitores o absolvam ou condenem de um crime, do qual se arrependeu. Qual é o crime, não posso dizer. O que encanta no enredo é a inocência, as emoções de Marco César que de repente se vê apaixonado, tanto que começa a ler o que seu amor gostava de ler, os livros de Clarice Lispector que também passam a fazer parte dele, a mostrar o seu reflexo.
- Esse pássaro não deve ser só um pássaro, esse pássaro é um voo. Presta atenção para você ver se não é.
Pág. 73
A escrita do autor é poética, sincera, voadora, eu diria, é difícil explicar. Isso e a edição linda do texto, além da singularidade da história, envolvem o leitor. É uma leitura rápida, mas pode ser saboreada aos poucos, como um livro de poesia, até para atender ao pedido do autor de ler "distraidamente".
E ficaram assim, um ao lado do outro, imaginando ou, quem sabe, sentindo que o amor devia ser um alvo que não se acerta, que não se conhece o tamanho, a matéria a natureza e o miolo. Ficaram assim, um ao lado do outro, parecendo um desenho do amor que se bastava com duas pessoas sentadas juntas debaixo de uma amoreira em silêncio, sem canto, sem pássaro, sem nada alado, apenas duas pessoas em estado de pura entrega, um casal procurando e esperando o próximo instante que estava pronto para chegar.
Pág. 170
Nota: 7,5

Título: Lis no peito - Um livro que pede perdão
Autor: Jorge Miguel Marinho
Editora: Biruta
Nº de páginas: 181